quarta-feira, 8 de abril de 2020

Google for Education como vírus: disseminação na educação catarinense em tempos de pandemia



Éverton de Almeida[1]
Cristiano Moreira[2]
As recentes medidas de isolamento social, adotadas em várias partes do planeta para enfrentamento da pandemia de Coronavírus (Covid-19), chegaram oficialmente às escolas Catarinenses no dia 17 de março, quando o Governador do Estado publicou o Decreto Nº509 no Diário Oficial do Estado de Santa Catarina determinando a suspensão das aulas por um período de trinta dias.
A primeira quinzena de suspensão será compensada com as férias de julho. A partir do dia 06 de abril, o calendário começou a girar novamente. Para tanto, a estratégia adotada pela Secretaria de Estado da Educação (SED-SC) foi a de mobilizar, nos últimos dias, a categoria de professores a participar de cursos de formação online, na tentativa de estimular o uso de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), em sua interface com o currículo, através das ferramentas presentes na plataforma Gsuite for Education, da empresa Google.
A pandemia tem se tornado um terreno muito fértil para as grandes empresas do mercado de tecnologia digital, conhecidas como as cinco grandes do BigData (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft). No contexto catarinense, no ano de 2015, a SED-SC firmou parceria com a QiNetwork, empresa representante dos serviços da Google no Estado de SC. Iniciado no ano de 2016 através de um piloto realizado em 36 escolas estaduais, o projeto Google for Education pouco avançou nas escolas, muito por conta das dificuldades de infraestrutura tecnológica (serviços de banda larga, equipamentos, dispositivos móveis de acesso à internet) e de formação de professores para a integração das TDIC ao currículo. Mesmo assim, a entrada da Google na educação catarinense se efetivou por meio do uso dos e-mails institucionais com domínio @sed.sc.gov.br, que hoje utilizam o servidor de e-mail Gmail.
Pouco mais de quatorze dias de suspensão das aulas e, ainda sem um prognóstico que avalie possíveis datas de retorno, a Secretaria de Educação convoca professores para utilização em caráter de urgência dos recursos oferecidos pelo Google for Education. À primeira vista, a medida se apresenta como uma ação salvífica para o ano letivo, considerando a total excepcionalidade do momento que estamos vivendo, a situação de emergência e a forte adesão da população às medidas de restrição de circulação. Mas há alguns problemas que merecem alguma atenção.
Primeiro, trata-se de uma medida apressada. Visa formar professores para o desenvolvimento de atividades “não presenciais”. Nota-se que o termo utilizado pela SED-SC não é o de Educação à distância (EAD). Isto porque para que receba essa nomenclatura deve-se seguir o marco regulatório do Ministério da Educação (MEC). Uma formação feita às pressas e sem levar em conta o caráter de gestão democrática da educação brasileira, convocando a categoria a discutir a situação, tenderá a gerar um problema a mais para a educação. Se pensarmos que muitos professores não atualizam suas leituras acerca de conteúdos que tangenciam seu trabalho, dada a precarização da carreira docente, carregarão agora outra carência: a de ordem tecnológica. A obsolescência migra do espaço da sala de aula física para a sala virtual, ou melhor dizendo, para a classroom.
O efeito que podemos perceber dessa “tarefa hercúlea” (como mencionado na videoconferência entre SED-SC e coordenadores das regionais), é o esvaziamento conceitual revelado pela ausência de uma discussão mais aprofundada sobre currículo, para além de uma preocupação instrumental de cumprimento de calendário/componentes curriculares. Pouco, ou quase nada se comentou sobre a organização curricular, o modelo escolar vigente, sobre a forma de abordar os conteúdos escolares, a organização escolar em ambientes virtuais e a concepção de educação que se pretende com tais medidas.
A crise provocada pelo Covid-19 convoca-nos a pensar em como lidar com o ensino diante da contingência do calendário, do ensino e da saúde. É possível comparar medidas assim com o remédio que se toma para a cefaleia, sem tentar entender o que causa a dor. As escolas irão ministrar o remédio que antes era presencial para uma administração virtual? Diante desta possibilidade, vale lembrar do conceito de Pharmacon, quando o mesmo remédio pode ser um veneno.
A formação de professores para uso dos recursos da Google vem se apresentando igualmente vazia de concepções conceituais sobre tecnologia. Apresentadas como ferramentas neutras e inevitáveis, pouco ou quase nada foi abordado sobre quais os valores carregam tais ferramentas, quais tecnologias e quais recursos educacionais digitais são capazes de promover a aprendizagem dos estudantes. Assume-se a formação instrumental e em caráter de neutralidade, isto é, ensinar aos professores a operação da plataforma (operários treinados para apertar os botões e produzir em massa), como modo de promover a capacidade de se transpor as atividades de ensino-aprendizagem realizadas presencialmente, para salas e aulas virtuais. Sabe-se que a aquisição instrumental para manejo dos recursos tecnológicos é uma etapa importante, mas corre-se o risco de que a tarefa onerosa para as contas públicas possa desmoronar diante e pelo modelo escolar vigente. O peso de tal queda não deverá ser colocado sobre as espaldas dos sujeitos da educação, responsabilizando-os pelas dificuldades que surgirão.
Outro problema que se evidencia é a completa ausência de tópicos que esclarecessem os professores sobre os termos de uso de dados de professores e estudantes. Apesar da Google permitir o acesso gratuito aos seus produtos, sabemos que uma das formas de lucratividade da empresa vem da propaganda assertiva e sugestiva, oriunda da coleta e análise de grandes quantidades de dados (o Big Data), que permitem a predição de diferentes cenários criados para conduzirem as condutas de consumo. As empresas entram com as plataformas e nós entramos com nossos dados. Cada clique e cada palavra informada em seus produtos são analisados em larga escala e são oferecidos a seus anunciantes. De alguma maneira nossas informações, nosso modo de vida e forma de trabalho passa a compor os ‘ativos’ da empresa.
A questão a se refletir é, vale a pena entregar os dados de aprendizagem dos estudantes? Não se trata tanto de nos preocuparmos com os dados dos indivíduos. Ainda que devamos pensar na relevância, para quem tem o poder, de saber nossas preferências individuais, nossas capacidades em produzir aprendizagem, nossas competências tecnológicas, e através desses dados sermos responsabilizados pelo sucesso ou insucesso de nossos alunos. Há no regime de segurança dos aplicativos um sistema de monitoramento das contas e dos acessos, autorizado pela aceitação dos termos de uso das contas Google, que anunciam nossa permissão de acesso ao conteúdo da conta pelo administrador local.
No momento, nessa condição de acesso em massa, seria importante pensarmos mais sobre o quanto vale as informações (monetização de dados) quando analisadas num conjunto populacional. Por exemplo, entregaremos a uma corporação internacional os dados de aprendizagem em matemática de 5 mil estudantes de 12 anos, seus cliques na web, o tempo de acesso, a geolocalização, hábitos culturais e etc. Isso se converte em informações extremamente importantes e que podem ter vários desdobramentos e implicações na carreira docente. 
O isolamento tem se mostrado um momento favorável ao enfrentamento de um problema que, até aqui, apresentou grande complexidade para chegar à solução. O acesso de qualidade à internet é, melhor dizendo, um atalho que permanece mal sinalizado há pelo menos duas décadas no Brasil. Ainda que as escolas possuam acesso à internet, ainda faltam condições de infraestrutura tecnológica que permita o acesso simultâneo de todos os estudantes e professores. Com o isolamento, as empresas e a Secretaria de Estado da Educação está utilizando a infraestrutura de uso pessoal dos professores, paga com o salário dos professores e das famílias dos estudantes. Ainda podemos trazer à tona o problema de acesso daquelas famílias que não possuem condições financeiras para oferecer acesso a seus filhos (energia elétrica, internet e dispositivos de qualidade). Não estariam assim os professores arcando com uma despesa que é de fato e direito do Estado? As tecnologias digitais, do modo como estão sendo implantadas, seriam meios de privatização da educação pública?
Por fim, a emergência de uma pandemia está se revelando um momento de naturalização de medidas de exceção. Sabemos que o isolamento social é a única forma que temos para enfrentar esta crise de saúde humanitária. Mas, ao invés de agirmos com prudência e consciência comunitária, estamos aceitando medidas educacionais anunciadas verticalmente. Estamos abrindo mão de discutirmos qual escola temos e qual escola queremos. Estamos deixando de lado a possibilidade de pensarmos e propormos juntos uma formação realmente humana, crítica e socialmente referenciada. Estamos perdendo a oportunidade de discutirmos quais as consequências do modo de produção que vigora no planeta.
Estamos apressados, e nos apressando em aprender a apertar botões para transferir conteúdos a nossos estudantes sem sabermos se isso garantirá a aprendizagem. Corremos o risco de abrirmos mão da educação como um dever do Estado e um direito de todos. A educação sem estas ponderações passa a seguir a lógica da nuvem na qual as palavras perdem seus vínculos simbólicos, passando a fazer parte de um aranzel sem contexto, muito semelhante a mercadoria. A educação moldada com palavras e conteúdos pescados nas nuvens, cujos sujeitos produtores ou reprodutores não pensam nos possíveis contextos, não produzirá experiência.



[1] Educador Musical. Professor no CED-UFSC. Mestre em Educação e Doutorando no PPGE-UFSC. Membro do grupo de pesquisa REPERCUTE: redes, pesquisa, currículo e tecnologia.
[2] Professor da Educação Básica de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Teoria Literária. Doutor em Literatura Brasileira pela UFSC.

domingo, 14 de setembro de 2014

Compondo a autoria

Compondo a autoria: reflexões sobre o processo de "redizer" ou enunciação da morte do autor
por Éverton de Almeida
O autor... quem é esse? Tentando compor um texto que seja a minha forma própria de redizer o já dito, leio e releio para escrever aquilo que os Autores me disseram através de seus textos, e que, muito provavelmente, outros escritos já tentaram assim fazer. “O sujeito nunca fala palavras que já não foram ditas, embora, muitas vezes, não tenha consciência disso” (CAVALHEIRO, 2008, p. 71). Me enquadraria, nesse caso, no primeiro tipo de autor que Schopenhauer (2012, p.57) apresenta em ‘A arte de Escrever’: escrevendo das reminiscências, daquilo que li, a partir da memória do que li.
Tipificando três formas de autor, Schopenhauer (2012) enquadra um segundo tipo de autor, onde estão os que pensam enquanto escrevem. Estes dois tipos são, segundo ele, os mais numerosos. Os raros, são os de terceiro tipo, aqueles que escrevem por que pensaram. O pensamento antecedeu o processo de escrita destes autores, e são eles os que perpetuam-se na imortalidade. Ainda, dentre estes raros, são mais raros ainda os originais, aqueles que pensam seriamente em suas próprias questões, e não a partir de livros ou sobre o que os outros disseram. “Apenas aqueles que, ao escrever, tiram a matéria de suas cabeças são dignos de serem lidos.” (SCHOPENHAUER, 2012, p.58)
Paul Gauguin (2012, p.9), célebre pintor, conhecido por seu envolvimento com Van Gogh, em seu único livro, o romance anacrônico intitulado Antes & Depois, provoca o leitor com sua frase inicial, onde afirma que o livro que temos em mãos não é um livro, pois, “um livro, mesmo um mau livro, é um assunto sério”. Que a obra, se produz “na carne viva”, perguntando: “A realidade não é suficiente para que nos abstenhamos de escrevê-la”? Exemplifica-se, com esta apresentação do livro de Gauguin, típica da crítica literária, o que Barthes (2012, p.61) apresenta como a exaltação do autor: “O livro e o autor colocam-se por si mesmos numa mesma linha, distribuída como um antese um depois: considera-se que o Autor nutre o livro, quer dizer que existe antes dele, pensa, sofre, vive por ele; está para sua obra na mesma relação de antecedência que um pai para um filho”.
Nesta discussão desenvolvida dentro de um processo reminiscente, onde encontro a minha autenticidade? Quando escrevo, procuro, organizo, componho com as inspirações motivadas pelas reflexões em cima das leituras, através da fruição do que encontro nas fontes, buscando redizer com alguma originalidade o que me foi dito. O autor, aqui, está morto e os autores que trago também – em sentido literal: Foucault, Barthes, Schopenhauer. Estes, trazem a morte como ponto de nodal da escrita, “o parentesco da escrita com a morte” (FOUCAULT, 2001, p.7), seja para adiá-la ou para perpetuar o herói; Schopenhauer (2012, p.66) dá pistas do que seria o instrumento que fere e faz sangrar a autenticidade do pensamento, que é o momento em que ele [o pensamento do autor] se confronta com a escrita, quando “faz fronteira com as palavras: ali se petrifica, e a partir de então está morto”. Cavalheiro, aponta: “Barthes também discorre acerca da dificuldade em se precisar de quem é a voz que escreve, uma vez que, em sua concepção, a escrita destrói toda a voz” (p.71) Da fonte trago a frase descrita acima: “a escritura é a destruição de toda voz. De toda origem” (BARTHES, 2012, p.57). A morte de quem escreve é iminente, é como um ato de des-existir, de deixar de ser, de desistir de ser o “esse” (da primeira pergunta deste texto) dentro do seu próprio texto, para deixar-se falar pela escrita: a “marca do escritor não é mais do que a singularidade de sua ausência; é preciso que ele faça o papel do morto no jogo da escrita” (FOUCAULT, 2001, p.7).
Então, quem emerge como protagonista? Com a web 2.0 e a ampliação da interação em rede, consolidado na primeira década do século XXI, conceitos como “comunidades de aprendizagens”, “wiki”, “recursos educacionais abertos”, ainda que mantenham o sentido de autoria – para manter um estatuto, de “que se trata de uma palavra que deve ser recebida de uma certa maneira e que deve, em uma dada cultura, receber um certo status” (FOUCAULT, 2001, p.13) – tendem a confirmar o que os autores aqui descritos apresentam: a morte do autor. O leitor passa a ser o protagonista.   
... “o leitor é um homem sem história, sem biografia, sem psicologia; ele é apenas esse alguém que mantém reunidos em um mesmo campo todos os traços de que é constituído o escrito. Para devolver à escritura seu futuro, é preciso inverter o mito: o nascimento do leitor deve pagar-se com a morte do Autor”. (BARTHES, 2012, p.64)

Referências:
BARTHES, Roland. O Rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
CAVALHEIRO, J. A concepção de autor em Bakhtin, Barthes e Foucault. In Signum: Estudos da Linguagem. N, 11/2, p67-81, dez 2008. Disponivel em http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/signum/article/view/3042 
FOUCAULT, Michel. O que é um autor. In Ditos e Escritos: Estética – literatura e pintura, música e cinema (vol. III). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001. p.264-298
GAUGUIN, Paul. Antes & Depois: ideias e memórias. Porto Alegre:  L&PM, 2011
SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de escrever. Porto Alegre: L&PM, 2012

domingo, 4 de maio de 2014

Lista de Textos importantes

Aqui tratarei de elaborar um lista com textos importantes sobre Mídia e Educação.
Esta publicação deve servir como orientação para formação de professores nessa temática. Como base de dados para uma possível formação continuada. Tratará de concatenar artigos acadêmicos que fui estudando ao longo de minha formação no mestrado e que estão disponíveis para download.

[10/09/2014]

BRECHT, Bertold. O rádio como aparato de comunicação: Discurso sobre a função do rádio. in Sâo Paulo: Revista Estudos Avançados v. 21: maio/agosto 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v21n60/a18v2160.pdf

BALTAR, Marcos. Letramento radiofônico na escola. Linguagem em (Dis)curso – LemD, v. 8, n. 3, p. 563-580, set./dez. 2008 Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ld/v8n3/08.pdf

______________. Rádio Escolar: uma ferramenta de interação sociodiscursiva. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbla/v8n1/09.pdf


MONTEIRO, G.C.T. Rádio Escola: ferramenta pedagógica e exercício de cidadania. Disponível em: http://dmd2.webfactional.com/media/anais/RADIO-ESCOLA-FERRAMENTA-PEDAGOGICA-E-EXERCICIO-DE-CIDADANIA.pdf

FERNANDES, Siddharta. RÁDIO ONLINE NA ESCOLA: INTERATIDADE E COOPERAÇÃO NO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM disponível em: http://27reuniao.anped.org.br/gt16/t1616.pdf

Mídia Educação e a formação cidadã: análise das oficinas de rádio da escola municipal Olavo Soares Barros de Cambé – PR Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/R4-1134-1.pdf

Alfabetização Midiática Informacional (AMI) - Currículo para formação de Professores. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0022/002204/220418por.pdf


Assumpção, Z.A. Radioescola: locus de cidadania, oralidade e escrita. UNIrevista - Vol.1 nº3. Disponível em: http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_Assumpcao.PDF

_____________ A Rádio na Escola: uma prática educativa eficaz. Disponível em: http://www.bemtv.org.br/portal/educomunicar/pdf/radionaescola.pdf


Rivoltella, P. C. Mídia-educação Pesquisa Educativa Disponível em: http://www.perspectiva.ufsc.br/perspectiva_2009_01/Pier.pdf 


LEMKE, Jay L.. Letramento metamidiático: transformando significados e mídias. Trab. linguist. apl.,  Campinas ,  v. 49, n. 2, dez.  2010 .   Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-18132010000200009&lng=pt&nrm=iso acesso em  21  maio  2014

BUCKINGHAM, D. Cultura Digital, Educação Midiática e o Lugar da Escolarização. Disponível em http://educaremprocesso.com.br/WordPress/wp-content/uploads/2013/07/Cultura-Digital-e-Educa%C3%A7%C3%A3o-Midi%C3%A1tica.pdf 
acesso 18 mar 2013

FISCHER, R.M. Mídia, máquinas de imagens e práticas pedagógicas. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782007000200009 acesso 11 mar 2014

JOST, F. Novos comportamentos para antigas mídias ou antigos comportamentos para novas mídias?  In Matrizes Ano 4 – nº 2 jan./jun. 2011, p. 93-109 Disponível em: http://www.matrizes.usp.br/index.php/matrizes/article/view/68

FISCHER, R.  "Mitologias" em torno da novidade tecnológica em educação. Educação&Sociedade,  vol.33 no.121, Oct./Dec. 2012. Disponivel em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-73302012000400007&script=sci_arttext


JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Introdução. Disponível em: http://www.editoraaleph.com.br/site/media/catalog/product/f/i/file_1.pdf

MARTÍN-BARBERO, Jesús. Cuando la tecnologia deja de ser una ayuda didáctica para convertirse en mediación cultural. Disponível em:
http://campus.usal.es/~teoriaeducacion/rev_numero_10_01/n10_01_martin-barbero.pdf

GOMÉZ, Guillermo Orozco. O telespectador frente à televisão: Uma exploração do processo de recepção televisiva. Disponível em:
http://coral.ufsm.br/comefe/files/orozco-telespectador-frente-a-tv.pdf

PRIMO, Alex. O aspecto relacional das interações na web 2.0. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/limc/PDFs/web2.pdf

ALMEIDA, M.E.B [et all].Cenários de inovação para a educação na sociedade digital, São Paulo: Loyola, 2013. (Introdução)
http://webcurriculo.files.wordpress.com/2014/02/13931_01ed_cenarios-de-inovacao-para-a-educacao_mkt.pdf

BÉVORT, Eveline e  BELLONI, María Luiza . Mídia-Educação: Conceitos, histórias e perspectivas. Educ. Soc., Campinas, vol. 30, n. 109, p. 1081-1102, set./dez. 2009 Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v30n109/v30n109a08.pdf

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Rádio no Espaço Escolar

Olá Pessoal, estou aqui para apresentar a vocês um pouco das possibilidades de uma rádio escolar e o que me levou a trabalhar com essa ferramenta na escola.

Nos meus primeiros trabalhos como professor, constatei que as escolas produzem muito conhecimento nas salas de aula, que muitos alunos produzem grandes ideias e realizam excelentes trabalhos. Porém, estes trabalhos ficam restritos à sala de aula e acabam sem visibilidade para toda a escola. 

Então, a Rádio surge como oportunidade de embelezar e educar o espaço sonoro da escola, produzindo educação e cultura nos momentos em que os alunos encontram-se compartilhando os espaços comuns da escola. A Rádio escola é, também, uma ferramenta de comunicações e educação que pretende, através de uma perspectiva de Mídia Educação, oportunizar aos estudantes um espaço para produção e reflexão crítica sobre as mídias.

A ideia surge para enfrentar um problema amplamente constatado que é a falta de conexão entre a escola e as culturas tecnológicas que os estudantes vivenciam atualmente. O modelo de educação vigente parece não estimular os estudantes a produzirem saberes que lhes sejam interessantes e úteis. Os jovens ocupam papeis de protagonismo cultural através do acesso a internet e usos das redes sociais. São naturalmente consumidores e produtores de cultura na internet: Poesia, Música, Vídeos... Por que a escola não pode aproveitar essa produção? A rádio pretende concatenar os talentos da escola, unir as inteligências dos jovens da EEBFT na produção de conhecimento através do uso das tecnologias a serviço da comunicação.

Para que o projeto se realize é preciso a colaboração de todos da comunidade escolar, professores, funcionários, direção escolar, pais e principalmente dos estudantes. Participem das entrevistas, ajudem a construir essa ideia e consolidar esse espaço em que os estudantes terão suas vozes erguidas para democratizar ainda mais as relações dentro da escola.


Rádio Escola EEBFT: uma proposta inovadora de transformação!



em https://soundcloud.com/radiotolentino

A Rádio no espaço escolar é uma prática de mídia educação, que visa, através da integração entre as tecnologias de informação e comunicação, introduzir no ambiente da escola situações formais e informais de aprendizagem, levando crianças e adolescentes a constituírem suas práticas educacionais através da reflexão crítica sobre a mídia, bem como a desenvolver ajuda mútua e o espírito de coletividade.


Os quatro primeiros protótipos de rádio escolar desenvolvidos pelos estudantes da escola EEBFT, com notícias, apresentação do projeto de rádio na escola, entrevistas e músicas, pretende com essa atividade sonora estimular outros jovens a participar da iniciativa. Contou com a participação de todos os atores da comunidade escolar: Estudantes, Professores, Funcionários, Diretores, Pais e comunidade em geral. Também contou com a participação do Rapper e Ativista MV Bill. 
Produziram a atividade os alunos Guilherme Felippe, Eduardo Varela, Giovanna Tanferri e Julia Vieira, com orientação do professor Éverton de Almeida. Vale conferir.

domingo, 19 de julho de 2009

Frases selecionadas


Primeira publicação de 2009. Fiz a leitura do OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO do Verissimo e resolvi selecionar algumas frases que julguei bonitas, ou interessantes. O livro me encantou, fui realmente tocado pelo texto que me emocionou em diversos momentos. Alguns momentos pelas belas frases, outros pelas relações pessoais que acabam acontecendo em toda leitura. Dentre tantas palavras, a que eu escolho para definí-lo é que este livro, em suma, é um livro HUMANO.



"Que vergonha! O pai estava devendo o dinheiro do mês passado, a professora tinha reclamado o pagamento em voz alta, diante de todos os alunos. Ele era pobre, andava mal vestido. Porque era quieto, os outros abusavam dele, davam-lhe trotes, botavam-lhe rabos de papel... Sábado passado ficara de castigo, de pé num canto, por estar de unhas sujas. O pior de tudo eram as maninas. Se ao menos na aula só houvesse rapazes...
Meu Deus, como era triste, como era vergonhoso ser pobre!" (p.24)

"Os sinos começaram a tocar. O som musical enchia o ar, parecendo aumentar-lhe a luminosidade. Eugênio passou a sentir aqueles sons com todo o corpo. Lembrava-se de outros sinos, de outras igrejas, em outros tempos. Viu e ouviu mentalmente a sineta do seu primeiro colégio. Sentiu na memória os ecos tristes daqueles mesmos sinos que dobraram finados no dia em que morrera de tifo um dos alunos do colégio. De repente teve vontade de chorar. Os sinos lhe traziam tantas recordações... O pai contava que tinha sido sacristão quando criança, o padre mandava-o puxar a corda de um velho sino rouco. A mãe cantava um cantiga tristonha e arrastada que falava nos sinos da tarde. Sino... Incêndio. Procissão. Missa. Enterro.
Era alegria ou desespero o que ele sentia? Eugênio apertava os lábios, fechava os olhos. Os sinos estavam nos seus ouvidos, na sua memória, na sua epiderme, nos seus nervos." (p.40)

"Tinha um rosto comprido, dum moreno pálido; à primeira vista não impressionava nem bem nem mal. Quando a vira, pela primeira vez, Eugênio se sentia inclinado a dizer: Feia não é. Mas bonita... muito menos. Fixando mais demoradamente a atenção naqueles olhos olhos negros, vendo aquele rosto animar-se duma vida e duma estranha beleza que surgiram inesperadas de algum misterioso esconderijo interiror e que não dependiam em absoluto dos traços fisionômicos - ele ficara pensando... Acabara por fazer concessões: "Tem um certo quê...". Seria a boca? Não. A boca era grande e de desenho comum. O nariz? Também não. Era comprido e delsgado. Eram , então, os olhos. Pretos e serenos, não se distinguiam pela vivacidade, pela mobilidade ou por algum briho raro. Eram olhos para os quais ao cabo de algumas reflexões Eugênio só achou um qualificativo: humanos. Envolviam mornamente a pessoas ou objeto em que se fixavam, davam uma idéia de profundidade insondável e principalmente de compreensão. Pareciam enxergar além das coisas com uma penetração que nada tinha de indiscreto ou agressivo. Eugênio, porém, quando pensava em Olívia, não podia separar da imagem da amiga a memória de sua voz. Até na maneira de falar Olívia se recuisava a fazer chantagem. Sua voz não era rica de inflexões, não se coloria de falsas doçuras. Era, antes, quase monocórdia, grave e tranquila; tinha, como os olhos, uma quente qualidade humana." (p.69)

"- Por que será - perguntou ele a Olívia -, por que será que às vezes de repente a gente tem a impressão de que acabou de nascer... ou de que o mundo ainda está fresquinho, recém-saído das mãos de quem o fez?
Sem esperar resposta, retomou a cantiga, apertando o braço de Olívia. Ele amava agora aquela gente que se cruzava na rua, nas calçadas, sentia prazer em ser também uma árvora daquela floresta móvel. Teve desejos de beijar Olívia. Sentia que naquele momento esse desejo não tinha malícia nem sensualidade. O que ele queria dela era o beijo do companheiro, o beijo que todas as criaturas deviam dar-se ao se defrontarem na rua, mesmo sem se conhecerem - um sinal de solidariedade, um símbolode boa vontade - o beijo, enfim, que as pessoas trocariam naturalmente se o mundo fosse outro...
Como se tivesse estado a rolar a pergunta no espírito, Olívia respondeu:
- São clareiras que se abrem de repente para a gente poder vislumbrar Deus." (p.93-94)

"Olivia tirou o chapéu, sentou-se ao lado do amigo, fez que ele se deitasse com a cabeça aninhada em seu regaço e começou a acariciar-lhe os cabelos em silêncio. Houve um instante de paz, de doce tranquilidade, quase sono. Mas o silêncio, o calor do corpo de Olívia, o perfume que vinha dela começaram a conspirar." (p.100)

"- Que é que penso de Freud? Bom... eu... - Riu amarelo. - Essa sua pergunta... - Tirou o lenço do bolso e passou-o pelo rosto, que agora sentia úmido de suor.
Ela continuava a sorrir com um canto da boca.
- Será que nunca ouviu falar em Freud? O senhor não é médico?
- Sim, sou médico. mas a senhora compreende... a pergunta foi tão inesperada... Enfim, a minha especialidade não é...
Calou-se, sentira que devia estar com cara de idiota. A pequena mangava com ele, divertia-se à sua custa, devia ser dessas meninas ricas, mimadas e literatas, que gostavam de falar em Freud e na questão sexual só pra mostrarem que são "modernas" e não têm preconceitos. E ele se prestava à ridicula brincadeira." (p. 105-106)

"Às vezes - continuou ele - descubro dentro de mim forças de bondade, de pureza. São elas que me dão alguma esperança, que me dizem que nem tudo está perdido..." (p.147)

"Nossa filha fez dois anos ontem. Já fala, já faz perguntas e já sabe ficar parada, de cabecinha torta, pensando ningu´m sabe um quê. Tenho de lhe explicar que ela tem um pai, como as outras meninas. Anamaria indaga coisas sobre esse pai que nunca viu mas que já principia a amar. Para ela, pois, tu existes à maneira de Deus: tua filha não te vê mas sabe que "és", sente em mim e de certo modo nela própria a tua existência. Por que será que ainda há homens que não acreditam em Deus? O simples milagre de existir é uma afirmação de Deus." (p.170)

"Procurar nossa felicidade através dos outros - aconselhava Olívia em outra carta sem data. - Não estou pregando o ascetismo, mas a santidade, não estou elogiando o puro espírito de sacrifício e a renúncia. Tudo isso seria inumano, significaria ainda uma fuga da vida. Mas o que procuro, o que desejo, é segurar a vida pelos ombros e estreitá-la contra o peito, beijá-la na face. Vida, entretanto, não é o ambiente em que te achas. As maneiras estudadas, frases convensionais, excesso de conforto, os perfumes caros e a preocupação de dinheiro são apenas uma péssima contrafação da vida. Buscar a poesia da vida fora da vida será coisa que tenha nexo?" (p.171)

"O dinheiro é uma coisa nojenta. Um sujeito decente não se escravisa a ele." (p.178)

"Continuou a andar, olhando com esquisito prazer para as pessoas que passavam. Todas elas deviam ter os seus dramas, os seus problemas morais e materiais, as suas pequenas e grandes alegrias. Eram seres humanos. Viviam!
"A vida começa todos os dias". Essa frase lhe visitou a mente durante todo o trajeto do consultório a casa." (p.179)

"Lembrou-se duma frase de Olívia: "A bondade não é uma virtude passiva". Como era fácil ser mau e como era ainda mil vezes mais fácil ser indiferente! A roda da vida girava e no fim de tudo estava a morte, o silêncio, o aniquilamento." (p.196)

"Só a vida ensina a viver, Genoca. É preciso a gente ver primeiro tudo que a vida tem de mau e de sórdidopara depois podermos descobrir o que ela tem de belo e de bom, de profundamente bom." (p.236)

"Aquele fim de inverno foi particularmente escuro para Eugênio. A morte de Dora lhe abrira as velhas feridas, que recomeçaram a sangrar. Já não o atormentava mais a sensação de culpa, a lembrança de que um gesto seu poderia ter evitado o desastre. O que ele sentia com dolorosa agudeza era a inutilidade de todos os gestos. Ninguém podia com o destino - sua mãe era quem tinha razão. A vida rolava a revelia de nossos desejos e os homens eram por ela arrastados inapelavelmente." (p.250-251)

"Anamaria veio correndo ao encontro do pai. Eugênio tomou-a nos braços e apertou-a contra o peito. A menina segurou-lhe o rosto com ambas as mãos.
- Papai, eu quero dormir no teu quarto, já estou mocinha.
- No meu quarto? - amirou-se Eugênio. - Mas tu vais deixar dona Frida sozinha, minha filha?
- A madrinha dorme com o padrinho.
Os Falk desataram a rir.
- Então tu queres mesmo dormir no quarto do pai?
Anamaria encolheu os ombros, enrugou o nariz e entortou a cabeça numa espantada interrogação.
- Pois eu não sou tua filha?
E, como acontecia sempre que não tinha argumentos, Eugêni deu-lhe um sonoro beijo de capitulação.
Naquela noitea cama de Anamaria foi posta ao lado da do pai. Às sete horas Eugênio teve de se deitar ao lado da filha a fim de que ela lhe segurasse a orelha.
Olhando para a filha ali a seu lado, Eugênio lembrava-se das palavras de Olívia: É como se agora te fosse dado modelar, com o barro de que foste feito, um novo Eugênio. E pensar que vais continuar nela." (p.251-252)

" - Que é a vida doutor? A vida... a vida... o senhor sabe... Não vale a pena viver... Eu às vezes penso: Ora, a gente nasce, vive sofrendo, mas por quê? Ninguém é sincero, os homens são egoístas. As mulheres também. A gente às vezes se apaixona, se faz de bobo, e por quem, doutor? Por umas dessas diabas pintadas e falsas que amanhã a terra como as carnes e elas ficam esqueleto, como qualquer cozinheira. O senhor decerto leu aquele versinho dos dois esqueletos, o do nobre e o do pobre, conversando debaixo da terra. O pobre se ergueu e perguntou pro nobre: Onde estão os teus avós nessa ossada branca? O outro não sabia. Todos na morte somos iguais. Mas o que é a morte? A morte, doutor, pode ser um sono sem sonhos. Ou, então a vida é o sonho da morte..." (p.257)

"Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente. São estes intervalos entre um trabalho cansativo e outro trabalho cansativo, estes momentos em que a gente pode conversar com um amigo, brincar com os filhos, ler um bom livro... O erro é pensar que o conforto permanente, o bem-estar que nunca acaba e o gozo de todas as horas são a verdadeira felicidade. Como agora eu vejo claro! É preciso o contraste..." (p.259)

"E, de mãos dadas, pai e filha saíram para o sol." (p.273)


(VERISSIMO, Erico. Olhai os lírios do Campo. São Paulo: Companhia das Letras, 2005)

sábado, 11 de outubro de 2008

Acontecimentos de sala de aula


Kandisnki


Estava eu em uma quinta série, crianças com média de idade de 11-12 anos. Estudamos no terceiro bimenstre os elementos da música onde ouvíamos músicas a fim de diferenciar os sons e instrumentos musicais melódicos e harmônicos. Os conceitos que as crianças deveriam aprender eram Melodia e Harmonia. No texto teórico de harmonia coloquei que a Harmonia sempre foi ligado aos conceitos de proporção e beleza (estética) e que na música se tratava de combinações de notas musicais soando juntas, trazendo essa noção de proporção e beleza entre os sons (abstração). Ao final do bimestre, nas aulas pós avaliações e constatação de que os conceitos haviam sido apreendidos pelas crianças, propus uma atividade interdisciplinar com as artes plásticas. Após uma breve explicação oral sobre a trajetória das artes visuais desde o figurativo, fotografia, cinema e abstração chegando na arte conceitual, propus que fosse feito desenhos que servissem de embelezamento estético aos cadernos de música. De uma abstração qualquer, feita a lápis grafite, criado pelas crianças, elas deveriam colorir, de forma pessoal, buscando preencher os espaços da folha, harmonizando as cores da forma que mais lhes agradassem.
Esta atividade funcionou muito bem, as crianças se dedicaram bastante a isto, demostrando apreço aos trabalhos finalizados. Percebi o quanto é difícil trabalhar com as artes visuais pois no momento de criação, no fazer artístico, as crianças cantam, falam, conversam entre si, alguns se movimentam o tempo todo para olhar os outros trabalhos ou pedir material emprestado. É uma movimentação intensa devido a fluição de idéias. Aparentemente a sala de aula se encontra em um tumulto total, mas existe uma ordem criativa que não pode ser bloqueada. Embora o ruído proporcionado por esta movimentação as vezes me encomodasse, fiz de tudo para manter as criações e não bloquear as idéias, apenas estimulando os que apresentam maiores dificuldades de concentração.

Mas o fato marcante foi uma pergunta realizada por uma menina, enquanto coloria sua arte, muito concentrada e repleta de seriedade:

- Ô Sêo! A zebrinha é branca e preta ou preta e branca?

Pensei um pouco sobre a pergunta e percebi que esta diferença fazia todo o sentido no trabalho dela já que começar pintando a zebrinha por preto ou branco, poderia afetar a proporcionalidade a a harmonia das cores. Eu, sem saber a resposta exata, respondi que dependeria do ângulo que ela estivesse olhando a zebrinha... e devolvi o pensamento perguntando a ela se a vaquinha era branca e preta ou era preta e branca?

Ela, categoricamente respondeu que era branca e preta. hehehehe
Esses acontecimentos que valem a pena para um arte educador romantico como eu! Quanto mais tempo vivo na escola, mais me decepciono com os adultos e me alegro em conviver com as crianças!
(Trilha sonora para o texto: Of Montreal - Faberge Falls for Shuggie)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Presença feminina (ou Ausência)

"O cheiro de esmalte me deu saudade, saudade da presença, da companhia, de um comentário sobre a vida. Saudade de observar o pote de sorvete repleto de cores e o aroma tomando conta da sala. Senti saudade de abrir um livro e ler um poema e da conversa e do chimarrão. Da janela aberta, do pó, da casa, dos bichos e de todos os raros momentos em que me senti feliz. O cheiro de esmalte me arrebatou com a melancolia de estar só. Esse cheiro de esmalte me disse com sutilidade: Você está só!"

Temporal

Fazia tempo
que eu não me sentia
tão sentimental

(Paulo Leminski)


Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

(Carlos Drumond de Andrade)